A primeira escola de Rio Claro foi o Cel. Joaquim Salles

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O primeiro Grupo Escolar Rioclarense “Grupo Escolar Cel. Joaquim Salles”

O primeiro Grupo Escolar de Rio Claro, organizado em 1900, teve à frente o Professor João Von Atzingen (o primeiro Rioclarense formado pela Escola Normal Paulista, em 1894; de renome nacional, foi Inspetor Literário e Escolar, e lecionou Matemática, Alemão, Inglês e Latim em ginásios e colégios estaduais).Alojado provisoriamente em imóvel defronte à Praça da Liberdade (o prédio fora alugado à Municipalidade pelo Capitão Antônio Pedra da Glória), a escola mantinha três salas de aulas e duas extensivas que funcionavam na rua dois (nas eleições as classes eram transformadas em seções eleitorais).Oficialmente, a Escola foi inaugurada em vinte e seis de junho daquele mesmo ano. Presentes à solenidade, o Presidente do Estado de São Paulo e futuro Presidente da República, Francisco de Paula Rodrigues; o Deputado por Rio Claro, Coronel Joaquim Augusto de Salles (que se desdobrou de sobremaneira para a criação da escola), dentre outras ilustres autoridades convidadas. As festividades realizadas pelo Major Mariano Guimarães foram prestigiadas pela população Rioclarense.Em 1902, o então Diretor da Escola, Joaquim Antônio Ladeira, solicitou à Câmara Municipal providências para que fossem realizadas melhorias no Grupo, ou até mesmo sua transferência do local. Atendendo prontamente o pedido do professor, o Presidente da Câmara Coronel Joaquim Salles, através de convênio estadual, alugou e reformou o prédio localizado na rua cinco, de propriedade da Família Schmidt.

A Família Salles, de relevo nacional, e principalmente municipal, teve marcante interferência na vida política da população rioclarense (por oito anos consecutivos, quase que diariamente, havia contendas com o Partido Republicano Histórico – cujos membros eram conhecidos como “Jacobinos”- liderado pelo Coronel Marcello Nery Lobato Schmidt). O Coronel Joaquim Salles, pessoa de destaque no município de Rio Claro, foi eleito pelo partido Republicano (os Jagunços) por três legislaturas, de 1898 a 1910, período em que acumulou, também, a administração da cidade (1902/1904). Entre seus irmãos destacaram-se João Alberto (representante Federal do 6º Distrito Eleitoral aqui sediado, Deputado Federal por dois mandatos, co-proprietário do Jornal “A Província de São Paulo”, hoje, “O Estado de São Paulo”), Manoel Ferraz de Campos Salles (Presidente da República, casou-se nesta comunidade com sua prima irmã, Ana Gabriela) e o Coronel Diogo Eugenio (vítima do famoso crime “Longaretti”). Até mesmo a Praça da Liberdade chamou-se “Praça Campos Salles”, retornando à antiga denominação com a queda daquele partido.Proposta a construção de um prédio escolar naquele mesmo ano, restou ao Município a doação do terreno. Os engenheiros do Estado, Ataliba Valle e Francisco de Paula Ramos, que implantavam as redes de água e esgoto na cidade, prontificaram-se a elaborar o projeto (posteriormente fundariam a “Empreza de Água e Exgottos de Rio Claro”).O terreno escolhido para o novo estabelecimento de ensino foi da antiga Necrópole (localizado na rua sete, antiga Rua Boa Vista), junto à Praça “Campos Salles”abandonado desde 1875, quando os túmulos e ossadas foram removidos para onde se encontra hoje o Cemitério São João Batista.Notícias de uma possível utilização da área que serviu para enterramentos, mobilizaram a opinião pública e impulsionaram a coleta de cento e setenta e três assinaturas de Rioclarenses desfavoráveis à construção do prédio naquele local. Ainda que estudos garantissem a qualidade do terreno, o Inspetor Sanitário do Estado de São Paulo, Dr. Emilio Ribas, oficiou à Câmara Municipal, comunicando a necessidade de desinfecção da área antes das obras, por medida de segurança. A desinfecção, após tanto tempo, poderia representar uma medida desnecessária, porém, declarou o Dr. Ribas: “a prevenção nada custa e promove a tranqüilidade dos cidadãos de Rio Claro”. Iniciadas as obras, em 1903, a escola nomeada Cel. Joaquim Salles para lá foi transferida no ano seguinte, em 20 de abril (orçada ao Estado em cento e trinta e cinco contos e quatrocentos e vinte e seis mil réis).Em meados de 1920, o Grupo Escolar Cel. Joaquim Salles, sob a direção do Professor Luiz Gonzaga Fleury, possuía cerca de seiscentos e trinta alunos, distribuídos em dezoito classes.O prédio escolar, de arquitetura com valor principalmente ambiental, apresenta envasaduras com vergas retas, cimalha; platibanda com frontão; modenatura em relevos de massa; portão e gradis de ferro.O declínio político dos “Sallistas”, no Município ocorreu a partir de 1904, quando não conseguiram eleger seu sucessor (muito embora o Cel. Salles tenha mantido seu cargo na Assembléia Legislativa até 1910), derrotados pelo Coronel Marcello Schmidt (o 2º Grupo Escolar de Rio Claro recebeu seu nome, outorgado pelo novo Partido em ascensão).
Em 2002, os prédios escolares do Cel. Joaquim Salles e Irineu Penteado, na rua um, avenida dezoito (terceiro grupo escolar), construídos na primeira República, foram tombados pelo COMDEPHAAT, à vista do alto valor histórico na evolução educacional de nosso Estado (Diário Oficial, 7 de agosto de 2002). Cumpre lembrar, a rivalidade entre os dois Partidos Políticos era imensa. O Prefeito Marcello Schmidt demoliu o belo monumento, em mármore carrara, comemorativo da implantação da Luz Elétrica, erguido na nova área do Jardim Público pelos Correligionários do Cel. Joaquim Salles, para dar lugar à escultura do Barão de Rio Branco.

Autor: Anselmo Ap. Selingardi Jr. – Arqueólogo-Pesquisador

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